sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

139- JUNQUEIRA FREIRE



Luis José Junqueira Freire, mais conhecido como Junqueira Freire, foi um monge beneditino, poeta, que nasceu em Salvador, em 11 de dezembro de 1832, sendo seus pais José Vicente de Sá Freire e Felicidade Augusta Junqueira.

Realizados os estudos iniciais e os de latim, ingressou, em 1849,  no Liceu Provincial, onde, ao par de excelente aproveitamento, revelou seus dotes de poeta.

Em 1851, ingressou na Ordem dos Beneditinos, para atender vontade da família e foi ordenado com o nome de Frei Luis de Santa Escolástica Junqueira Freire.

Viveu revoltado e arrependido, no Mosteiro de São Bento, em Salvador e acabou pedindo para se afastar da disciplina monástica, embora permanecesse sacerdote, pois seus votos tinham caráter irrevogável. Amargurado, continuou fazendo suas leituras preferidas, escrevendo  poesias e exercendo o mister de professor.

Em 1854 obteve a secularização e recolheu-se à casa, onde escreveu sua autobiografia e cuidou da publicação de uma coletânea de versos, denominada “Inspiração do Claustro”. Em 1869, surgiu uma edição póstuma de um compêndio de sua autoria intitulado “Retórica Nacional”, no qual “explica sua concepção de poesia como cadência medida e até certo ponto prosaica”.

Seus versos são ultra-românticos e demonstram seu erro vocacional, misturando preces e  blasfêmias, seu desespero, seu horror ao celibato, seu desejo reprimido e seu sentimento de pecado. Há em sua obra uma constante revolta  “contra  a regra, contra o mundo e contra si próprio, o remorso e, como conseqüência natural, a obsessão de morte”.

Junqueira Freire morreu jovem, muito jovem, no dia 23 de junho de 1855, com apenas 23 anos de idade.

Sonho

Era um bosque, um arvoredo,
Uma sagrada espessura,
— Mitológica pintura
Que o romantismo não faz.
Era um sítio tão formoso,
Que nem um pincel romano,
Nem Rubens, nem Ticiano
Copiariam assaz.

Ali pensei que sonhava
Com a donzela que me inspira,
Que põe-me nas mãos a lira,
Que põe-me o estro a ferver;
Que me acalenta em seu colo,
Que me beija a vasta crente,
Que me obriga a ser mais crente
No Deus que ela julga crer.

Sonhei com a visão dourada,
Que todo o poeta sonha,
— Idéia gentil, risonha,
Tão poucas vezes real!
Que só, com o peito abafado,
Se vai de noite em segredo
Contar no denso arvoredo
Ao cipreste sepulcral.

Mas, despertando do sonho,
Que aos homens não se revela,
Achei comigo a donzela,
Me apertando o coração,
E ainda presa a meus lábios,
Entre um riso, entre um gemido,
Murmurou-me ao pé do ouvido
— Que não era um sonho, não. —

E não mais, enquanto vivo,
Deixarei esta espessura,
— Mitológica pintura
Que o romantismo não faz.
Era um sítio tão formoso,
Que nem o pincel romano,
Nem Rubens, nem Ticiano
Copiariam assaz.

Teus Olhos

Que lindos olhos
Que estão em ti!
Tão lindos olhos
Eu nunca vi...

Pode haver belos
Mas não tais quais;
Não há no mundo
Quem tenha iguais.

São dois luzeiros,
São dois faróis:
Dois claros astros,
Dois vivos sóis.

Olhos que roubam
A luz de Deus:
Só estes olhos
Podem ser teus.

Olhos que falam
Ao coração:
Olhos que sabem
Dizer paixão.

Têm tal encanto
Os olhos teus!
— Quem pode mais?
Eles ou Deus



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