quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

GODOFREDO FILHO


GODOFREDO FILHO





Godofredo Rebelo de Figueiredo Filho, mais conhecido como Godofredo Filho, poeta, escritor e professor, nasceu em Feira de Santana no dia 26 de abril de 1904, sendo seus pais Godofredo Rebelo de Figueredo e Esther  Magalhães Carneiro de Figueiredo.
Realizados os preparatórios, cursou Filosofia e Arte Brasileira.
Foi Diretor do Patrimônio Histórico e  Artístico Nacional  do Ministério da Educação e Cultura, lecionou  História do Brasil na Escola Normal de Feira de Santana. Na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, foi professor de Belas Artes e Estética.
Como Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico, tombou diversas igrejas, capelas, solares e sítios culturais da Bahia e Sergipe.
Representou o Brasil na UNESCO, em Paris,  e no Congresso de Cooperação Intelectual, em Santander, Espanha. Nesta ocasião, visitou várias países de Europa.
Foi membro atuante da Academia de Letras da Bahia, e várias outras Instituições culturais, dentre as quais destacamos o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, o Centro de Estudos Baianos, o Conselho de Assistência ao Plano de Urbanismo da cidade de Salvador, o Instituto de Filosofia e a União Baiana de Escritores.
Dentre suas distinções e horárias, destacamos a Medalha Olavo Bilac, do Exército Brasileiro, e a Ordem do Mérito da Bahia.
Por ocasião do quarto centenário da cidade do Salvador, escreveu a peça “Auto de  Graça e Glória da Bahia”.
De sua extensa bibliografia sobressaem as seguintes produções:
 
Poema de Feira de Santana
Poemas de Ouro Preto
Poema das Rosas
Sonetos e Canções
Lamento de Enône
Cinco Poetas
Seminário de Belém da Cachoeira
A Torre e o Castelo de Garcia D´Ávila
Introdução ao Estudo da Casa Baiana
Introdução Crítica do Navio Negreiro, de Castro Alves
Influências Orientais na Pintura Jesuita na Bahia
Pethion de Villar, um grande esquecido poeta
Guia Prático e Prosaico de Cachoeira
Fundamentos da Estética Psicológica
Dimensão Histórica da Visita do Imperador a Feira de Santana.
 
 
 Como poeta, foi considerado o pioneiro da poesia modernista na Bahia. Suas obras poéticas estão reunidas no livro “Irmã Poesia”, editado pelo Governo do Estado.
Godofredo Filho faleceu em Salvador, no dia 22 de agosto de 1992.
 

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POEMA DA FEIRA DE SANT´ANA

(Fragmento)



Feira de Santa´Ana
— a de hoje tão diferente
também é boa
riscadinha de eletricidade
torcida esticada retesada de fios negros aéreos longos
Fords estabanados raquíticos
levando no bojo viajantes de xarque

ó Fords arados desvirginadores defloradores de sertão
tempo morto
eleições de meu tio Zé Freire
gorda dezena de anos o chefão daquilo
coronel turuna seu Zé Freire
com escravos cavalariças fazendas dinheiro dinheiro
tempo morto
(e um rapaz alfaiate um magricela romântico pernalta
rondando minha prima feita que morreu
esse rapaz era um grande namorador
namoro de caboclo guabiru.

DOIS SONÊTOS À PERDIÇÃO DE MARIANA


Vaga, tênue lembrança de um perfume
de flor esguia, delicada e pura,
Mariana entre as frágeis, lindas rosas,
que à tarde o vento máu despetalava.

De vestido azul claro e de sandálias
recurvas, laço rubro nos cabelos,
recordo quando a via, ó enfermeira
silenciosa das fontes do jardim.

Do destino das coisas compungida,
o sinistro mistério aprofundando
da evanescente e efêmera beleza,

Mariana talvez que pressentisse
o mudo horror das rosas derradeiras
que em seu féretro branco morreriam.


Penso no amargo instante, ó alta Amada,
em que se apartarão, cheios de mágoa,
de mim teus negros olhos, rasos de água,
e essa ternura ingênua e delicada.

Que mais posso dizer? Nem se apagada
sempre, não hoje só, verei a frágua
a salamandra de teu sonho. Trago-a
dentro d´alma, já murcha e mal fanada,

a flor do afeto a que sorrimos ambos,
e a deixaste gelar neste abandono,
no limbo vítreo domais longo sono.

Embora ! O aroma dúlcido dos jambos
sentirei, que me lembra um céu perdido,
ó fruto verde, ó fruto proibido!

 
 
LAMENTO DA PERDIÇÃO DE ENONE


Quero fugir e não posso.
Quero correr e me sinto
colado no chão da esquina.


Se a noite ao menos pudesse
fazer com que me esquecesse
da fria luz que, no quarto,
sobre o teu corpo morria.


Oh gargantilhas de espanto
na esconsa perdida!


Se a noite ao menos pudesse,
apagar o riso insano
que deste para outros homens,
a esquimose de teu riso
na carne dos transeuntes.


Taça esgalga (negra rosa!)
taça esbelta onde anoitece
o vinho que me delira,
tormento,
lunar delícia
de tantas bocas viciadas
na polpa nutriz dos mundos.


Não dormias, que eu só sei
da luz verde que escorria
sobre os teus seios imersos
no mar moreno do peito.
Girafa que me alucina,
cobra, cobra,
cobra, cobra,
doida mula-sem-cabeça
batendo os cascos de vidro
no rosto do meu desejo...


Quero gritar e não posso.
Quero correr e me sinto
colado no chão da esquina.


Se a noite ao menos pudesse,
na sombra do mar do tempo,
perder o lume trigueiro,
mas tão frio, de teus olhos.


Na relva negra do púbis,
de teu púbis -- horto exíguo,
quisera pascer cuidados,
ternuras, canções de lua,
ou bem, anseios magoados
do riço mau das bromélias.


Quisera pascer cuidados...
ou esgueirado pelas bordas
do poço do mundo estéril,
fecundar óvulos mortos.


Enone,
a aurora surgia
das dobras de teu silêncio.


Vinho, aromas, luzes cruas,
e essas pupilas boiando
num charco azul de atropina.


Enone,
a aurora dançava
na festa dos teus cabelos.


Quero fugir e não posso.
Quero correr e me sinto
colado no chão da esquina.

                              
 
 
                                 

 

 

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